Sete semanas... a minha mente repete esta frase como se de um mantra se tratasse... sete semanas... uma oração, um refúgio...
Parte de mim anseia por este corte do cordão umbilical, parte de mim receia o momento final.
Estou a sofrer...
O meu orgulho não me deixa dizer em voz alta. O meu amor-próprio não me deixa demonstrar a ninguém o que me vai na alma.
Dentro em breve terei o meu último dia no meu local de trabalho... dentro em breve terei o meu último dia em Lisboa. A minha alma sofre. A minha mente diz-me que, talvez, seja o melhor para mim. Do outro lado do Oceano tenho uma família que me aguarda impaciente. Ansiosa. Tenho a promessa de um trabalho. Tenho a certeza de momentos em paz. Aqui, a minha alma sofre. No mais fundo do meu ser; custa-me a separação... com não sei o que... Tenho medo de um recomeço.
Por vezes, a força que vem de mim abandona-me. E deixo-me levar por lágrimas de tristeza e saudade não sei de que. De quem.
Rezo para que chegue o mais rápido possível o quebrar das correntes... o corte do cordão... Sete semanas... o meu mantra, o meu refúgio, a minha oração...
No mais íntimo de mim, desejo o momento do reencontro com a minha família, com os que amo... com amigos e amigas de verdade que anseiam pelo meu regresso... mas há algo que não me deixa em paz... algo que não sei o que é... que o meu coração não me deixa esquecer...
Muita coisa perdeu o sentido para mim. Sei o que o futuro me reserva. Uma vida calma, com um trabalho, família que me espera ao fim do dia. Uma filha a quem me dedicar.
Mas, no fundo; sei que faltar-me-á algo... terei parte de mim vazia... ôca... parte de mim que anseia por um beijo caliente, por um abraço que me aconchegue... Mas a outra parte de mim; calejada, experiente, magoada... nunca me vai deixar confiar outra vez em alguém. Amar outra vez... Foi nesta cidade que casei-me... foi nesta cidade que tive oportunidades que desperdicei... é nesta cidade que deixo a minha alegria... os meus sonhos... Aqui, onde cresci enquanto pessoa, aqui onde o meu coração revestiu-se de uma couraça onde nada entra. Como se eu tivesse lutado em mil guerras... Aqui vai ficar a minha ingenuidade, inocência... saudade...
Saudade de mim... de quem fui... de quem não poderei ser...
Um salto para o vazio, é assim que sinto este momento crucial da minha vida. Mas com a certeza de que o elástico do bungee jumping vai-me puxar de volta... e lembrar-me-ei da sensação da adrenalina a correr-me nas veias... e quando estiver, outra vez com os pés em terra firme, restará apenas a ilusão de uma aventura... de um salto no vazio... tirarei dos tornozelos a corda à qual estava atada... e poderei caminhar. Cabeça ao alto... ombros erguidos, a mente cheia de memórias... de sorrisos e alguns coisas menos boas. Mas que me foram úteis para a minha caminhada. Para o meu enriquecimento pessoal.
Por agora, deixo-me ficar... sentada em posição fetal, com os olhos rasos de água... com saudades de algo que não sei o que é... a tentar cortar os laços que me prendem cá... deixo-me levar pela nostalgia de Outono... que lentamente chega com o cheiro à marmelada, com passeios dourados pelas folhas de plátano... com os dias cinzentos e o vento frio que brinca com os meus cabelos... abraçada a mim mesma... só... como sempre fui... como hei-de ser...
sete semanas... apenas sete semanas me separam de um recomeço... e oxalá venha depressa... oxalá seja rápido o fim desta agonia... desta espera...
2 comentários:
Até me arrepiei ...
Já falta tão pouco, finalmente vais seguir com a tua vida, tal como mereces ...
Mas para trás deixas também vivências, momentos bons e maus que te ajudaram a crescer ... tal como amigos que te terão sempre no coração !!!
Bjokas mt grandes
Sila
Ai tá quase!!!
Sete semanas passam rápido...
Imagino essa ansiedade... recordações do passado... desejo do encontro com a família... vontade de começar de novo...
A sua cabeça deve andar a mil!
Beijinhos e tudo vai correr bem!
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