sábado, 21 de novembro de 2009

Fim

Chegou ao fim a minha história no Claparède. Existe uma confusão de sentimentos em mim. Estou feliz por não ter que ver e partilhar o mesmo espaço com pessoas indesejadas. Mas triste por deixar pessoas de quem gosto realmente. E sei que também gostam de mim. Durante os últimos dias recebi tantos mimos, tanto carinho... tantas demonstrações de afecto. Chorei toda a semana. De saudades, de tristeza por ir embora, por deixar os meus anjos sem asas, as minhas pestinhas que tanta dor de cabeça me deram, tantos aborrecimentos, mas também tantas alegrias, tanto amor, carinho... estou triste por deixar amigos e amigas que me são tão caros... a Cidália (uma das pessoas mais adoráveis que já conheci, apoiou-me sempre, ouviu as minhas queixas, aconselhou-me...esteve sempre ao meu lado), a Sila (apesar de a conhecer há pouco tempo, fez toda a diferença... ela é bestial. Adoro-a... é amiga, brincalhona, divertida, sincera...), a Fran (minha mana crescida... tem o coração do tamanho das pernas, enormes... e faz-me sentir tão pequenina ao pé dela), o Paulo... (com um humor negro que eu adoro, sem papas na língua, diz o que pensa doa a quem doer... mas tem um coração de manteiga), o Mário (o pestinha... o meu crítico literário... companheiro de café... conselheiro da minha injustiça... alguém que não vou esquecer... somos muito parecidos, gostos, maneira de ser... até nascemos no mesmo dia e mês...e as iniciais também Mário André / Adriana Maria invertidas; mas as mesmas... devemos ter sido irmãos noutra vida), o Vilmar ( meu irmão de coração... sempre alegre, brincalhão, distraído... cabeça no ar...), o João ( recém-chegado... mas do melhor que há... 100%... brincalhão, divertido, meio palhaço... como eu... tem ar de ser amigo para todas as horas). Vou sentir saudades da Paula(mas em breve a verei... vai morar em Fortaleza), da Florentina (ficará sempre no meu coração... ela parece a tia Anastácia do Sítio do Pica Pau Amarelo... lembro da primeira vez em que entrei na cozinha e ela correu comigo com uma vassoura na mão, a dizer que não queria ninguém a passar na cozinha... assustou-me imenso...lol), da Ivone (a Pipone... das suas maluquices, da sua gargalhada exagerada...)... vou sentir saudades de tudo... das Directoras do Claparède (que me prepararam uma surpresa, compraram um bolo para fazerem a minha despedida; nunca tinham feito isso antes... também deram-me um fio com um coração de prata de recordação delas) deixaram-me muito feliz e comovida com a atenção que tiveram para comigo... do Marcos, da Mina... do meu trajecto para o trabalho, da correria e do stress de Lisboa.

Penso que nunca senti-me tão em casa como aqui em Lisboa. É como se eu tivesse vivido sempre cá. Eu vou, mas a minha alma fica aqui. A vaguear pelas ruas no Outono dourado de folhas caídas no chão... quando o vento vier brincar com elas, eu também estarei a espalhá-las pelas ruas... ou nas noites de lua, quando o rio Tejo reflectir o seu brilho espelhando a sua beleza... nos braços do Cristo que espreita Lisboa do seu pedestal em Almada... estarei cá, enquanto os meus amigos lembrarem de mim, e sentirem a minha falta...estarei cá quando o Tomás sentar no recreio e sentir a minha falta e, por engano olhar para outra pessoa e disser "mamana, xenta...", ou a seguir ao almoço ele disser : "mamana, colo"... estarei cá quando o Bruno olhar para o céu e vir as nuvens cinzentas, e todos eles recordarem de mim ao ouvir o Carlos Paião e cantarem a Cinderela... estarei cá... todos os dias... em pensamento... estarei cá...

"quando louca te sentires
melhor vais estar
sempre que no Clapas
a tua imaginação te colocar"

(Sr. Balsa, não te zangues, fiz minhas as tuas palavras... ninguém poderia dizer tão bem aquilo que sinto... obrigada pelas tuas palavras...)
Vou estar sempre cá, porque louca sou a todo instante e a minha imaginação não é inconstante...

Não falarei aqui dos outros amigos, dos que não fizeram parte do meu mundo profissional, não gosto de misturar as coisas... mas para os que acompanham os meus minutos a sós... vocês sabem o quanto são importantes para mim. O quanto me encheram a vida de alegria, de cor, de esperança. Levo-os a todos no coração. Um beijo e até sempre...

domingo, 15 de novembro de 2009

dizer o teu nome é a minha oração
beijar a tua boca,
a minha tentação
olhar para ti é a minha bênção
sentir a tua mão na minha
é elevar-me ao céu..

sábado, 14 de novembro de 2009

Filipa,

Quis o destino que nos conhecêssemos em circunstâncias não muito boas. Lembro do primeiro dia em que vi-te. Vinhas ter com o teu irmão. Vocês falavam sobre coisas do prédio e eu fiquei a olhar-te. Admirei-te desde o primeiro instante. Vi em ti, um mulher lutadora, guerreira, decidida, inteligente, esperta. Mas tinhas um quê de ingenuidade no olhar que lembrava uma criança curiosa. Imaginei-te a brincar na rua, a correr descalça, a fazer traquinices. Rebelde, teimosa. Foi a primeira imagem que tive de ti. Em privado, o teu irmão usava aquelas palavras menos carinhosas que usa quando fala do universo feminino. E eu olhava para ele e tinha pena. Por ele não saber o que era ter carinho de família, não saber o quanto é bom termos uma irmã com quem partilhar ideias, experiências. Sentia pena de vê-lo, em seu castelo imaginário a soltar raios e coriscos, cego de ódio do mundo sem se dar a chance de abrir os olhos e conseguir enxergar o que se passava à sua volta. Sem se deixar conhecer, sem se deixar amar. Sem saber o que é amar. Sem querer saber o que é ser amado.
Como já to disse por várias vezes, és uma das pessoas que mais admiro. Acho-te, simplesmente, fantástica. Não há palavras para te descreverem. És, sem sombra de dúvidas, uma vencedora. Uma mulher que luta por aquilo que quer. Uma mãe extremosa. Uma amiga sem igual. Tenho pena de não poder ter privado mais da tua amizade. De não ter-mos tido mais tempo para conhecermo-nos mais. Tantas vezes quis ligar-te, mesmo que fosse apenas para dizer "oi". Mas tinha receio. Que o teu irmão ficasse chateado, que tu não gostasses de ser importunada... enfim... parvoíces... O facto é que não liguei. Não tive tempo de conhecer-te mais. De darmo-nos mais. Gostava que a tua sobrinha tivesse tido mais contacto convosco, com os primos. Mas penso que "Deus escreve certo por linhas tortas". Futuramente não poderemos, de todo, estar juntas. Mas levo-te no meu coração. Serás a tia que a Catarina vai aprender a admirar e amar de longe. Vou contar-lhe a tua história. E ensiná-la a admirar-te do mesmo modo como eu admiro. Vou ensiná-la a ver-te através dos meus olhos. E ela saberá que tem uma grande tia. Que lhe merece todo o respeito, o carinho e a admiração que só as grandes mulheres merecem. Pode ser que um dia nos voltemos a encontrar. E neste dia, as palavras serão desnecessárias para dizer-te o quanto agradeço as tuas palavras, o teu carinho. O quanto és importante na minha vida.
Por agora, agradeço a Deus ter-te conhecido. E ter sido aceite por ti e pelos teus filhos. Admiro-vos imenso, a ti e ao Galvão. Vocês são os pais que muitas crianças gostariam de ter. Espero poder ver-te antes de partir. Mas se não der, fica aqui o meu obrigada por tudo... adoro-te cunhada. E, não me chames ex-cunhada... lol... até porque o teu irmão não me dá o divórcio. lol... vou continuar casada com ele, é uma das condições imposta por ele para que eu leve a Catarina. Vou continuar a fazer parte da "mobília", mesmo estando distante.
Um beijo. E até breve, até um dia...

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Por vezes não acredito que me deixei levar por um sentimento que fez-me cegar completamente e não ver um palmo diante do meu nariz. Por vezes, custa-me a acreditar que me deixei enganar e pensar que podia ser feliz ao lado de alguém como o homem com quem casei. Tento rever-me, tento reconhecer-me ... perdi-me no tempo. Perdi-me quando acreditei ter encontrado o "tal" amor para sempre. Por este amor, enfrentei o preconceito da diferença de idades. Ignorei os conselhos do meu pai, dos meus manos e manas. Abandonei a minha pátria, os meus amigos, o meu trabalho, a minha vida. Segui um sonho. Uma ilusão. Com ele, atravessei um oceano. Tive que adaptar-me a um país e uma cultura diferentes. Chorei noites seguidas na mais absoluta solidão, enquanto ele confraternizava com amigos que não via há tempos. Por ele mudei a minha maneira de ser. De falar. Durante algum tempo, sem que me apercebesse, eu fui apenas uma "bonequinha", um brinquedo novo que se mostra aos amigos. Era "telecomandada". Não podia falar junto dos seus amigos, porque poderia dizer algo que não "soasse" bem. Não podia aproximar-me da família dele, porque estavam em "patamares" mais altos que eu. Não podia "dar confiança" às pessoas e deixar que me tratassem por tu. Não podia tratar as pessoas por tu. Não podia voltar a estudar, nem abrir conta em um banco "porque era estrangeira". Durante algum tempo, fui a mulher "perfeita". Sentava-me ao seu lado e sorria. Como uma cabeça de vento que não tem mais nada para oferecer para além de uma cara bonita e um corpo desejável.
Um dia cansei.
De ser brinquedo. De ser marioneta. O Pinóquio ganhou vida.
A partir daí, a boneca só tinha defeitos. Já pensava, mas as ideias não eram suas. Alguém as tinha posto em seu cérebro. Alguém "escrevia-lhe" o que dizer. A partir desta altura, comecei a ser imperfeita. Tantos defeitos eu ganhei! E nem sabia que os tinha. Por medo, por pena, por acomodação deixei-me ficar. Vivendo religiosamente para um casamento que existia apenas na minha cabeça. No papel. Nas aparências.
Com a minha gravidez, a minha mente abriu-se. Os meus sonhos renasceram. A minha filha deu-me vontade de viver. Renasci das cinzas, como uma fénix. Voltei a sentir-me bela, sentir-me gente, sentir-me mulher.
Hoje sei o que não quero. O que não aturo. O que não me serve.
Não quero ser infeliz para sempre. Não aturo "pancas" de ninguém, não engulo sapos vivos. Não me serve apenas "vegetar" pelos dias que me restam.
Quero, mereço e hei-de ser livre, feliz. Por mim. Pela minha sanidade mental, pela minha filha.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Quinta - Feira

Hoje tentei estar bem. Tentei não preocupar-me com nada. Apenas viver e aproveitar o lindo dia de sol que tivemos. Pela manhã; eu, a Sila e o Mário fomos com as meninas ao Campo Pequeno. Foi super divertido. Tivemos uma manhã encantadora. Com muitas brincadeiras e palhaçadas pelo meio. Mas ao fim da manhã, quando estávamos a almoçar... olhei para eles e senti o meu chão fugir. Era o meu penúltimo almoço com eles... o penúltimo almoço no sítio que eu adoptei como segunda casa. Algumas vezes, a primeira. O lugar onde, em meio a tanta "loucura", tanta inveja, tanta intriga... eu sobrevivi... cresci... aprendi.
Hoje sinto o coração pesado e a alma vazia. Falta um pouco de mim. Menos do que me faltará amanhã. Mas vou sobreviver. Vou ter forças. Sou forte. Lutadora. E hei-de conseguir...
Por hoje ficam as fotos de dois dias lindos... o Dia de S. Martinho e o dia de hoje. Não ponho todas para proteger os miúdos... mas ficam algumas... de muitas...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Quase a acabar...

23.38HS...
O sono teima em não aparecer. Os dias passam a correr e o meu coração está apertado. Tenho tentado agir de forma natural, mas é-me difícil. Tento não sofrer, não chorar. Tento não sentir.
Foram 12 anos. A mesma rotina, o mesmo caminho percorrido... o mesmo carinho e dedicação, a mesma entrega de corpo e alma a tantos miúdos que, por ali passaram... os sorrisos, as pequenas vitórias, as minhas grandes conquistas. Sinto que vou deixar um pouco de mim, uma grande parte de mim. Sei que os meus queridos miúdos me vão esquecer... mas levo-os comigo... sorrisos, lágrimas, canções, abraços... um afecto verdadeiro. De ambas as partes. Está quase no fim.
Eu saberia que este dia chegaria. Pensei estar preparada para ele. Mas não estou. Aqui ficará um pouco de minha alma. Com o tempo aprendi a amar no sentido mais amplo da palavra. A amar a diferença, a imperfeição de corpos e de mentes. Aprendi que todo e qualquer ser humano é perfeito. Mesmo que não tenha todas as capacidades que os outros... mesmo que não seja tão inteligente, tão esperto, tão bonito...
Somos todos iguais... nas nossas diferenças. Nas nossas perfeições, imperfeições...
Só queremos, só desejamos uma coisa... ser felizes. E eu sei que contribuí para a felicidade de alguns, e também tive momentos muito felizes junto deles...
Agora sinto-me frágil... pequena. Só. Não mais os voltarei a ver, a ouvir-lhes a voz... a ralhar com as má criações ou a rir das parvoíces. Um dia, eles serão apenas eco do meu passado. E eu estarei esquecida... mas por agora existimos... uns para os outros... e custa-me deixá-los... custa-me partir.