domingo, 23 de novembro de 2008

Domingo

Estou triste. A minha filha está doente. Deve ser algo passageiro, mas não gosto de a ver assim. A casa parece deserta, vazia. Hoje fomos ver a antestreia do Madagáscar 2 ao cinema. Participei num concurso do Estrelas e Ouriços e ganhei um convite duplo para levá-la. Desde a quinta-feira que ela esperava por isso com ansiedade. Ontem à noite a seguir ao jantar, disse-me que doía-lhe a barriga. Fiz-lhe um chá e deitámo-nos para ver um desenho enquanto eu falava com a minha família pea Net. Hoje pela manhã, acordou muito cedo para ir ao cinema. Não quis tomar o pequeno almoço, disse que lhe doía a barriga. Passados uns minutos desatou a vomitar. Vomitou imenso. Passados uns minutos dei-lhe um chá. Ela não o bebeu todo. Mau sinal. A Catarina adora chás. Eu queria ficar em casa mas ela insistiu em ir ver o filme. Fomos ao Alvaláxia. Ela estava deveras ansiosa. Antes de entrarmos na sala, ela ainda vomitou um pouco. Depois que sentámos pareceu demorar uma eternidade para o início do filme. Ela ficou sempre sentada ao meu colo. Para evitar uma situação menos agradável, sai um pouco com ela e fomos outra vez à casa de banho. Ela estava bem e voltámos para ver o filme. Vimos todo o filme e não houve acidentes. Na volta para casa, ela não quis vir de auto-carro nem de metro. Disse-me que queria caminhar. Tive receio de que ela não aguentasse, do Campo Grande até ao Alvalade é um bom bocado a pé. Mas ela tanto insistiu que viemos a pé. Sentámos um pouco no parque infantil do Campo Grande. Mas a Catarina não quis brincar. Sentou-se ao meu colo , aconchegou-se e assim ficou por um bocado. Estava uma tarde agradabilíssima, uma temperatura maravilhosa e um sol radiante. O vento batia-lhe no rosto e eu ficaria ali sentada com a minha filha ao colo por toda a eternidade. Mas tinha que levá-la para casa. Pú-la ao colo e atravessei a rua. Depois pousei-a outra vez ao chão e caminhámos devagar. Quando chegámos à casa, deitei-a e ela adormeceu. Está a dormir desde que chegámos… não quis comer nem beber nada. Apenas dormir…

sábado, 22 de novembro de 2008

O meu bom dia…

Hoje o meu dia começou da melhor maneira. Acordei e fiquei a ver um desenho das Winx com a pequena. Fizémos um bolo ao meio da manhã. Ela pede para os fazer mas não os come… rs… depois veio pedir-me para escrever a password do computador para ela copiar e poder entrar na net. É das coisas que a Catarina mais gosta de fazer, jogar nos sites para crianças. Depois eu vim por a password e ela pegou num caderninho de anotações e começou a rabiscar… fez uns desenhos e disse que era uma carta para mim, perguntei-lhe o que estava escrito e eis a tradução dos desenhos:


 

Carta de uma filha para a mãe

Tu és a mais amorosa de todas. Compras-me revistas das winx e filmes das winx. Vais ao cinema comigo. Tu és tão alegre quando ris-te. É tão bom jogar contigo no computador e rir contigo. E és a mais amorosa de todas… beijinhos da Catarina.

Claro está que os meus olhos encheram-se de lágrimas e o meu coração transbordou de amor… a minha filha é o maior presente que a vida me poderia ter dado… não tenho o amor com o qual todas sonhamos… um marido, amoroso, amigo, companheiro, amante…

Mas o acaso do destino deu-me esta filha… que é o centro do meu universo…

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Dá que pensar…


 


 


 

E se Obama fosse africano?

 
 
Por Mia Couto
 
 
 
Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.
 
Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.
 
Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.
 
Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: "E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.
 
E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?
 
1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.
 
2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.
 
3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.
 
4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).
 
5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.
 
6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.
 
Inconclusivas conclusões
 
Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.
 
Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.
 
A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.
 
Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.
 
No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.
 
Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.
 
 
 
 
 
 
Jornal "SAVANA" – 14 de Novembro de 2008

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

 

 

 
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Domingo…

Ontem estava cansada de ficar fechada em casa e fui dar um passeio com a pequena. A tarde estava linda e convidava para uma aventura… saí de casa com destino incerto. Não tinha a certeza de onde ir … Como não vou muitas vezes à Baixa de Lisboa, resolvi ir até lá. No verão a Catarina tinha-me pedido para ir ver o que havia no elevador de Sta. Justa… infelizmente havia uma fila enorme de turistas e não deu para subir com ela. Ontem resolvi arriscar e lá fomos as duas. Ela adorou.Mostrei-lhe um pouco de Lisboa vista de cima… é realmente uma visão maravilhosa… ela estava encantada, até que a sua curiosidade infantil viu um lance de escadas e, ouvi um "vamos ver o que há além?"… eu queria ouvir tudo… menos aquilo. Tenho pavor de alturas… subir de elevador, andar de avião não me causa mossa… mas subir escadas numa altura tão grande… bem… não é mesmo o meu ponto forte… eu tentei resolver de outra maneira, dar a volta ao assunto, mas ela foi irredutível… queria mesmoir lá acima… ok… o que uma mãe não faz para agradar a sua cria? Lá fui eu escadas acima… demos uma voltita, apreciámos a vista e, eis que havia outro lance de escadas… mais uma vez a terrível frase… "o que haverá lá em cima?"… era demais para mim… tentei argumentar, fazer a Catarina ver que eu não conseguia, mas a ingenuidade dela e a sua força de vontade prevaleceram mais uma vez… "não tenhas medo, mãe… eu seguro na tua mão"… diante deste argumento, cedi… devo confessar que eu também queria ver se vencia o meu medo. Subimos os degraus. Claro que já não apreciei a vista com calma e tranquilidade. O medo paralisava-me… resolvi descer… pois é..

Dizem que para baixo todos os santos ajudam… comigo foi exactamente ao contrário… para subir, os santinhos todos ajudaram… mas para descer… bem… devem-se ter esquecido de mim… só o medo me fazia companhia… eu tinha mesmo que olhar para baixo… tinha umas botas altas e tinha que ver onde punha os pés… a escada estreita em caracol não ajudava nada… e, ainda por cima tinha que segurar na mão da minha filha para ajudá-la a descer… grande sarilho!!! Jurei para nunca mais… desci o primeiro lance de escadas a tremer… mal cheguei no último degrau, sentei-me no chão para recuperar forças… esperei que toda a gente descesse… corria um suor frio pelo corpo… fingi que apreciava a vista olhando para o horizonte, a tentar que as pessoas não se apercebessem do meu medo. A Catarina só dizia, "não fiques assim… falta pouco… eu ajudo-te…" mas dizer isso ao meu medo… lolol … não havia maneira de eu me acalmar. Enfim… eu tinha que descer… a qualquer custo. Reuni as forças que me restavam e lá fui… de mãos dadas com a Catarina, perninhas a tremer… desci o último lance de escadas que me separavam do elevador… último degrau… finalmente… quando o vi, nem quis acreditar… estava em segurança… esperei pelo elevador que demorou uns minutinhos… mal ele abriu as portas, sentei-me e deixei o medo lá fora. Apreciei a vista e agradeci a Deus por estar em segurança.

Infelizmente não consigo combater o medo (pânico) das alturas… mas consegui proporcionar uma tarde (+/- ) agradável à minha filhota. Depois… com os pés firmes no chão, fui até aos Armazéns do Chiado onde ela viu o Pai Natal e ganhou uma prenda dele… um livro… que ela adorou… ainda tivémos tempo de vir até à Praça da Figueira ver os pombos em revoada e tirar umas fotos… já fazia-se tarde e entrámos na estação do metro para virmos para casa… enfim…. Uma tarde agradável… na companhia da minha filhota e com saudade dos manos que tive que deixar on-line para ir passear com a pequena…

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

 

 
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Já cheira a São Martinho

E as castanhas são o ponto alto desta data… por isso, hoje fui ao mercado com a minha filha para comprar castanhas para levar para a escola. Ela embirrou que hoje havia de levar castanhas e eu concordei, pensando que ainda havia das que tinha comprado no fim-de-semana… engano meu… já tinham acabado e não sabia o que fazer, visto que ela só mas pediu ontem à noite…

Como toda a mãe galinha, levantei-me mais cedo que o habitual, arranjei-me, acordei-a… arranjei-a… tomamos o pequeno –aalmoço e fomos as duas a rir e a cantar músicas de castanhas… rumo ao mercado… lá chegámos e fomos direitas às bancas… ela viu as ditas cujas primeiro que eu… escolheu-as e disse à senhora que queria 5 castanhas… eu ri e disse que a senhora podia por mais… não ia pedir apenas 5 castanhas… rs… dei-lhe o dinheiro para ela pagar, e lá fomos nós… quase a correr para que eu não chegasse atrasada (ainda mais) ao meu trabalho… fiquei feliz de ver a minha filha tão satisfeita por levar uma coisa para partilhar com os amigos…

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Estou cansada...
mentalmente exausta...
físicamente sem forças...
dp volto...

domingo, 2 de novembro de 2008

Retrato


Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.


Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.


Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Cecília Meireles

sábado, 1 de novembro de 2008

Dia das Bruxas




Ontem (sexta-feira) fui com os meninos da minha sala à Quinta Pedagógica dos Olivais. Era o Halloween na Quinta. Queimámos os espantalhos que fizemos no passado, fizémos um espanta espírito, depositámos as cinzas dos espantalhos na terra, ao pé das árvores para agourar boa colheita. Vimos os animais e os miúdos receberam chocolates… eu lembrei todo o tempo da minha filha. Mas não a podia ter levado … ela comemorou o Pão por Deus na creche. Para este efeito, foi pedida a colaboração dos pais para que, ao invés de mandar doces e rebuçados, mandassem sandes e bolos secos. Hoje gostaria de a levar vestida de bruxinha a qualquer lado, ela está-me sempre a pedir. Mas não sei onde. Lol… logo se vê…