domingo, 29 de março de 2009

Domingo



Chegámos há pouco tempo do Colombo... estava um dia bonito, apesar de frio e ventoso... eu estava a preguiçar na cama quando o telefone tocou e uma amiga muito querida ( Fernanda; a ex-mulher do pai da Catarina) e perguntou-me se eu queria ir ter com ela ao Colombo... mesmo com preguiça, disse que sim e vesti a Catarina... arranjei-me e lá fomos nós... eu não gosto de shoppings e sítios fechados... penso que é o meu lado selvagem que me faz gostar de campos, natureza, espaços abertos... sentir-me livre... mas lá fomos nós... só depois de desligar o telefone é que lembrei-me que a Fernanda não tinha dito um sítio específico para encontrar-mo-nos... o Colombo é grande e não havíamos combinado um sítio específico... para completar a história, eu estava sem telemóvel... esqueci-me de o carregar e estava sem bateria... só a mim... fiquei à espera dela na porta principal, torcendo para que ela entrasse por lá... após uns minutos de espera, vejo-a chegar... parece que me tinha lido os pensamentos... sempre ao encontrões(mesmo com a crise instalada,o shopping estava cheio), fomos para a área dos restaurantes (a Catarina queria ir ao McDonalds)...lanchámos e depois a Catarina foi brincar no Fun Center... aproveitámos para pôr a conversa em dia.Eu já tinha saudades dela... há já algum tempo que não nos víamos... passámos um bom bocado. entre risos e maluquices divertimo-nos imenso...ela é o que a Catarina tem de mais parecido com uma avó aqui... visto que a Catarina não tem família cá... o que há não chega a ser uma família... com excepção da Filipa e dos filhos, a minha filha não sabe o que é ter família cá... mas dou-lhe todo o amor , a atenção ... o carinho que ela precisa... tento compensar-lhe a falta de uma família... e assim seguimos nós... unha e carne... a sombra uma da outra... sempre juntas... caminhando lado a lado... ensinando e aprendendo juntas... uma com a outra...

quarta-feira, 25 de março de 2009



Pai...
pelas vezes que não te disse Obrigada...
pelas noites que não dormes a pensar em nós, pelos disparates que fiz e continuo a fazer... pela distância que nos priva do convívio, pelo oceano que te separa da tua neta... desculpa-me... amo-te, pai... em todos os dias que acordo e penso em ti... e; mentalmente, peço-te a benção... e a saudade fez-me vir aqui... dizer-te... amo-te... adoro-te... meu pai... beijo.

isto é para ti...

Traz no rosto
As marcas de quem muito sofreu
Traz nas mãos
O cansaço de quem muito viveu
Traz nos olhos
O brilho da saudade de tempos que não volta mais
E no falar
A sabedoria de quem de quem viu demais

Dri



Ouço sons que ecoam em minha mente
E vejo imagens que não se apagam no tempo
Lembro do som das vagas enfurecidas
Que batem nas rochas e acariciam a areia
Que lambem meus pés
Água tépida e límpida
E o som do vento amigo
Barulhento
Que me revela segredos e conta-me mentiras
Dunas e coqueiros
Sol e sal
Terra saudosa
Terra Natal…
Dri

saudades de casa...


Fragilidade de meninas
Desejo de mulher
Força de mil homens
Esperança sempre
P´ro que der e vier
Corpos de chuva e sol e seca
Mãos que aram, semeiam e colhem
Inocência e malícia.
Pés que caminham
Sem medo de pisar a terra
Nordestina…
À espera de milagres, de chuva
De dias melhores…
A contemplar da janela
A morte que passa deitada na rede
A vida que passa e só deixa rugas na cara…
A contemplar a morte menina
A vida velha
A morte e vida Severina…


Dri 6/7/2003

O tempo parecia parado... eu olhava para o telemóvel a ver se os segundos passavam... se os minutos passavam... a minha ansiedade e a minha saudade estagnavam os segundos e aquela meia hora parecia uma eternidade...finalmente eram horas... saí a correr... a saudade era tanta que ia quase a voar... é assim todos os dias; todos os fins de tarde... o caminho parece mais longo...
finalmente desci as escadas ... os últimos passos que me separavam da minha filha... os meus olhos procuravam-na ávidamente... de repente avistei-a... pequena, frágil... a correr por entre os coleguinhas... leve como uma pluma... ágil... os seus pés pareciam não tocar o chão... como se ela tivesse asas... parei... fiquei a observar... o meu coração encheu-se de amor... e os olhos traíram-me... por um segundo senti-me frágil... o amor tem destas coisas... deixa-nos tolas... e o amor que sinto pela minha filha é mesmo assim... incondicional... e ao mesmo tempo que dá-me forças para resistir as intempéries da vida; torna-me frágil diante do seu sorriso... da sua ternura... e quando sinto as suas mãos a segurarem nas minhas, quando sinto o seu abraço; é como se todo o mundo coubesse ali... naquele abraço... como se tudo se resumisse apenas ao aperto da sua mão e toda a alegria e felicidade estivessem contidas no seu sorriso... fiquei ali... a olhar... a admirar... embevecida... apaixonada por este ser que me faz sentir tão grande,tão especial... e nem dá-se conta de que ela é que é o centro do meu universo... ela é que é a grande dádiva da Vida... da minha vida... e que o simples facto de ela existir, faz feliz tanta gente que a ama.O meu pai, os meus manos e manas... meus tios e tias... a minha família... A sua família. não lhe passa pela cabecinha o quanto é amada; querida... e este amor faz-me viver... sonhar... e tentar fazê-la feliz o mais possível...

A viagem…

Vou soltar as amarras
E içar as velas
Vou pegar no leme e conduzir o barco da minha vida
Para novos horizontes
Novos rumos
Novos lugares
Vou sem pressa de chegar
Desfrutando das calmarias
Ou lutando contra as tempestades
E da proa, quero sentir o vento nos cabelos
E ver o pôr do sol,
Deitada no convés
Apreciar as noites estreladas
Enluaradas
Ou o negrume do céu
e… quando das vigias
avistar-te à bom porto
lançarei âncora… e aportarei
em teus braços
para colher os frutos da minha viagem
para descansar em teu regaço
saciar a minha fome … a minha sede
e… feliz;
dormir em teus braços.

17 de Março de 2009.
Dri moura

domingo, 22 de março de 2009

Decepcionada...

Hoje fomos ver o tão anunciado e esperado espectáculo das Winx. Há dois meses que havia comprado os bilhetes e a minha filha estava ansiosa para ver as suas heroínas fora da tela. Acordou mesmo muito cedo hoje. Não eram ainda 6 da manhã quando ela já estava, literalmente, a enfiar-me os dedos pelos olhos dentro para que eu acordasse e não me atrasasse a levá-la a ver as Winx. Claro que fiquei mal disposta… não levantei, porque não eram horas e ela teve que voltar a dormir mais um bocado…
À tarde, fomos as duas… preparadinhas para ver o espectáculo… tenho ido sempre ver os espectáculos infantis e, desta vez, tive uma enorme decepção… foi das coisas mais mal feitas que já vi até hoje… meramente um produto comercial sem piada nenhuma… pobre em cenário, pobre em coreografia, pobre no enredo, pobre em efeitos especiais… enfim… a única coisa que ainda dava para ver era o guarda-roupa… bem ao estilo das tais bonecas e copiados à risca… detestei. Já que querem vender um produto, ao menos que o façam bem… mas aquilo não tinha, mesmo, ponta por onde se lhe pegasse… a coreografia deixava muito a desejar… uns passos de dança de rua misturados à uns saltos à moda africana e pouco mais que isso… o cenário sempre igual; do princípio ao fim… o que diferia eram os poucos “efeitos especiais” exibidos por um canhão de luz que projectava umas quantas partes dos filmes das Winx… o que levava a criançada ao rubro… de resto… enfim… deve ser o efeito da crise… que deve ter chegado também à cabeça dos criadores do espectáculo…
Valeu a alegria da minha filha… o obrigada em seus lábios… a atenção com que ela vê as coisas… o seu lado criativo que deu mais cor à história… valeu a felicidade de proporcionar-lhe mais um momento de alegria… valeu dividir mais uma tarde e um pouco do meu tempo a quem tantas alegrias me dá…

sábado, 21 de março de 2009

Estação do Entroncamento



uma estação...
um lugar de chegadas e partidas...
encontros e desencontros...
caminhos que se ligam e desencontram como as linhas de ferro...
onde as pessoas passam absortas em seus pensamentos, em seus problemas esquecidas do próximo...
do seu "eu"...
e, no stress do dia -a -a dia, esquecem de apreciar as cores...
as outras cores da vida...
o branco da nossa paz interior, o amarelo da nossa alegria...
e; postas de lado as cores da vida...
restam apenas os castanhos, ocres, cinzentos... pretos...
do nosso mau humor...
do nosso modo robótico de viver...
uma estação de vida...
onde a vida já esqueceu de viver...
Drica Moura


P.S.: esta pintura é de autoria do Mário André Balsa Gonçalves... e está publicada em seu blog Praça do Município... (http://pracadomunicipio.blogspot.com/2009/03/estacao-do-entroncamento.html)

Resumo

Esta foi, sem sombra de dúvidas, uma semana difícil para mim. Na quarta-feira estava a falar com a minha mana Cláudia pelo Messenger e ela disse-me que o nosso pai tinha ido fazer um electrocardiograma porque tinha sentido uma dor no coração. Imagino a aflição dele, para ir ao médico deve ter sido algo muito forte… ele odeia ir ao médico… para completar; a minha irmã Andréia tinha uma cirurgia marcada para ontem… ia tirar um mioma. Como se já não bastasse a sua saúde frágil e debilitada, ainda mais uma para ajudar. Passei toda a semana nervosa, tensa… em consequência; também eu fiquei doente. Os nervos eram tantos que o meu sistema imunológico avariou… fiquei constipada, tive febre por duas noites seguidas, diarréias matinais… e os nervos eram tantos que tenho o pescoço rijo e a doer até dizer chega. Como se todo o peso do mundo tivesse recaído sobre mim. Tentei minimizar as coisas e não mostrar-me tão nervosa por causa da Catarina. Não gosto que os meus problemas a afectem. E; como se não bastasse todo o conjunto de preocupações, na quinta-feira comemorou-se o Dia do Pai aqui em Portugal. Havia uma festa na escolinha da minha filha e todos os pais estavam convidados; óbviamente. A Catarina estava radiante, havia feito a prendinha para dar-lhe e pensava que ele ia à festinha. Infelizmente, conhecendo-o como conheço-o; já sabia que ele não compareceria. De manhã; antes de sair de casa e, por descargo de consciência, perguntei-lhe se ia lá buscá-la e ficava para a festinha… a resposta era já a esperada. NÃO. Nada que eu não esperasse. À tarde, saí a correr do trabalho e fui buscar a Catarina à escola. Quando lá cheguei ela estava triste. Sentadinha a um canto e com um ar infeliz. Quando viu-me a chegar, correu para mim e deu-me um grande abraço. “o pai não veio”… foi a primeira frase que ouvi da sua boca. Como sempre, tentei apaziguar o seu espírito… disse que se calhar ele estava ocupado e não pôde ir… mas a minha filha é esperta demais para se deixar enganar… “não, mãe… tu sabes que ele não gosta de gente… ele não veio porque não quis.”… o que posso eu dizer a uma criança de 5 anos que se apercebe das coisas e não se contenta com uma meia verdade?... para não lhe passar uma imagem “errada” do pai, eu disse que cada pessoa tem o seu feitio, o seu modo de ser e estar… que devemos aceitá-las e respeitá-las como são… é assim que mostrámos que gostámos delas… aceitando – as como são. Isso resultou. Mesmo triste, ela disse…”ok; eu dou-lhe a prenda quando chegarmos à casa.” Depois disse-me que não tinha importância, no Dia da Mãe ela sabia que eu ia lá estar… enchi os olhos de lágrimas e dei-lhe um abraço. Eu sou o seu porto seguro, o seu amparo, a sua alegria… o seu pilar neste mundo estúpido… e ela sabe disso… fomos comer um gelado para tentar compensar os dissabores do dia e diverti-me imenso ao vê-la a escolher os sabores do seu gelado… claro está que depois quis provar do meu… quando acabámos de comer o gelado, a Catarina já se tinha esquecido da tristeza que lhe assolava a alma e; de mãos dadas seguimos juntas para casa…
Hoje liguei para o meu pai… ele está bem… não foi nada de grave, graças a Deus e ficou feliz ao ouvir a Catarina a tagarelar… a minha irmã está bem, a cirurgia correu bem e ela já está em casa… liguei-lhe logo que cheguei à casa, mas ninguém atendeu ao telefone… naturalmente ela ainda não tinha chegado da diálise… deixei – lhe um recado no messenger … amanhã falamos com calma… só eu é que continuo com os nervos à flor da pele; precisando de uma massagem que me alivie a tensão… habilitas-te??? Lolol…
Beijo e um bom fim de semana… com alguma chuva à mistura; dizem as previsões… ;)

quarta-feira, 11 de março de 2009

Há lacunas entre nós
Entrelinhas que não ouso ler
E quando os nossos olhares se cruzam
As palavras deixam de ser necessárias
O rubor na minha face
Denuncia-me
Desvio o olhar e deixo que o silêncio
Nos envolva.
Sorrimos.
E no teu sorriso encontro-me…
Em paz…
Drica moura (11-3-09)

terça-feira, 10 de março de 2009

Fetiche (I)

A tua boca
Lembra-me fruta da época
Quando ris,
Quando fica entreaberta

Desejo-a…
Quero-a…
Sonho percorrer cada centímetro
Cada milímetro
Com a ponta dos meus dedos
Com os meus lábios…
… a minha língua.
Provar-te…morder-te…
Sugar… beijar…
… trincar…
Os meus olhos comem-na…
devoram-na…
adivinham a sua maciez
…textura…
… sabor.
A minha fantasia voa
Querendo-te…desejando-te…
Pele…mãos…olhos…cheiro…
Tudo.
Drica moura (9-3-2009)

domingo, 8 de março de 2009

Hoje é o dia da mulher… poderia falar aqui de muitas mulheres fantásticas que mudaram o mundo… que receberam prémios importantes, que ocupam cargos importantes. Poderia falar de mulheres maravilhosas do mundo da moda, da música, das artes… poderia citar nomes cohecidos de mulheres de ontem e de hoje… que fizeram e farão coisas espectaculares… Frida Khalo, Diana de Gales, Letícia (das Astúrias), Madre Teresa de Calcutá, Madonna, Stephánie (Mónaco), Princesa Isabel (assinou a Lei Áurea no Brasil), Evita Peron, Anita Garibaldi,Irmã Dulce, Marie Curie,Anne Frank… tantas… tantas…
Mas, e as outras? As que não conhecemos? As anónimas que lutam todos os dias por um lugar ao sol… por um pão para os seus filhos, para esconder o rosto de marcas deixadas por um companheiro violento… as que escondem os olhos para não deixar ver a tristeza de dias e dias a chorar? As que calam a voz e engolem sapos e lagartos por amor a um filho? O que dizer sobre estas mulheres? Heroínas? Cobardes? Acomodadas? Somos peritos em resolver a vida dos outros, encontrámos respostas para os problemas alheios… mas para os nossos não… são mais difíceis… mais complicados… para estas anónimas vitoriosas, princesas do seu reino de cristal, mulheres – a – dias, enfermeiras, professoras, contadoras de histórias, cozinheiras… para estas mulheres especiais, esquecidas pela vida…pelo mundo… os meus parabéns…
Mas também não quero falar só nestas mulheres… o meu tributo vai para as mulheres que fazem, realmente, parte da minha vida. Para as minhas bisavós, as minhas avós, as minhas tias… as minhas primas e as minhas irmãs… para a minha cunhada Filipa… para a Isabel Beirão; uma mulher deveras especial… que acompanhou-me num momento muito importante da minha vida; o nascimento da minha filha… quando eu mais precisava de alguém ao meu lado; ela esteve lá… de mãos dadas comigo… para a Fernanda Cleary(amiga do peito) …um tributo especial para a minha mãe… se não fosse por ela eu não estaria aqui. E um tributo maior para a minha filha. Esta pequena semente de mulher que fez-me ver as cores do arco-íris. Que faz-me sorrir, sonhar e entender o verdadeiro significado da palavra Amor… no seu sentido literal… no seu esplendor… para esta semente de mulher; o meu obrigada… por fazer-me renascer das cinzas como uma fénix… para ti filha, o meu obrigada, o meu tributo,o meu amor… a minha vida. E o desejo de que sejas uma grande mulher… feliz acima de tudo.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Procuro-te…
Olhos,boca,nariz,pele,ouvido…
Sentidos alertas
Em busca de ti.
O teu cheiro, o som da tua voz…
Qualquer coisa de ti.
As pernas tremem, o coração dispara.
A minha boca entreabre-se…
Sorriso tímido à espera de um beijo que não acontece.
Os olhos brilham.
Tu chegas.
Minhas mãos tremem ligeiramente.
Meu pensamento viaja.
Tu não me olhas.
O meu chão abre-se
E eu caio, lentamente…
Arrancada bruscamente de um sonho para a realidade
Da tua indiferença.
Drica Moura (6-3-09)
Eu como as tuas palavras…
Bebo-as…
Devoro-as…
Visto-as e adorno o meu corpo com elas.
Tatuadas no meu cérebro
E nas partes mais recônditas
Da minha alma,
Elas escondem-se
Brincam…
Dormem em mim.
Mas na madrugada
Vem o vento frio
E leva-as…
Acorda-me do sonho,
Solitária e vazia
Acordo sem ti.

Drica Moura (4-3-09)

quarta-feira, 4 de março de 2009

Bendita sejas…


 

Bendita sejas tu

Que me acolheste em teu ventre

E a vida me deste

Bendita sejas tu pelas noites em claro

Pelo alimento e abrigo do teu corpo

Pelo amor incondicional e raro

Bendita sejas tu

Pelos beijos e abraços

Por me ouvires e me acalentares

Por me embalares em teu regaço

Bendita sejas tu

Mãe…

Por seres eterna, etérea…

Por seres realidade e quimera…

Benditas sejas tu…

Por seres apenas

Mulher…

Adriana Moura. (3 – 3 – 09)


 

P.S.: para a minha mãe, que já não se encontra entre nós… mas acredito que, onde quer que ela esteja, sabe o quanto a amo… e sabe ler em meu coração todas as palavras que nunca cheguei a dizer-lhe… para ti, mãe… o meu amor eterno e incondicional…

domingo, 1 de março de 2009

“Sentimental eu sou… eu sou demais.”

Primeiro domingo de Março. São 7:33 da manhã. O chilrear dos pássaros é o único som que se ouve agora. Saí de um sonho lindo para entrar na realidade de um dia sem sol. Frio. Sem cor. No meu sonho eu estava em casa; junto da minha família e da minha mãe. Acordei ao ouvir a minha própria voz a chamar por ela. As lembranças de uma infância feliz ficaram sempre no meu inconsciente e; por vezes visitam-me em sonhos, e relatam-me episódios que só a minha imaginação fértil ainda consegue traduzir em imagens, cheiros e sons… que a saudade não faz esquecer… hoje acordei com saudade… da minha vida calma e sossegada, do barulho das conversas de uma casa cheia, de 5 irmãos a brincarem e a brigarem, de um som na vitrola que nos acordava todos os domingos, "Sentimental eu sou…eu sou demais…" assim cantava o Nélson Gonçalves, e assim acordávamos todos em casa. A ouvir os sentimentalismos escondidos do nosso pai que; macho como era não lhe era permitido chorar, nem ser meigo para os filhos para não os estragar com mimos. Mas era desta forma que ele nos mostrava o seu lado mais sensível. Com música. Hoje acordo em silênco … sem gritos em casa, sem risotas, sem música. Só as pernas da minha filha estendidas por cima de mim e o seu cabelo a roçar na minha cara, fazem com que eu me lembre que o silêncio é breve, que o som das risadas virão outra vez, que o sol há-de nascer e o seu brilho será ofuscante. Porque aqui há uma criança… há esperança… e quando ela acordar, a felicidade virá também … pronta para mais um dia de domingo. Sem tempo nem hora para acabar… e, juntas falaremos com os tios e tias que estiverem on-line… e, se o meu pai for lá à casa, também falaremos com ele… e vou ouvir a minha própria voz a dizer "a bênção, pai" … hábito de pequenina… que já não se usa (dizem os meus irmãos)… mas que me foi ensinado pela minha mãe, pelas minhas tias, pelos meus avós… e que nunca me deixou … e que agora também ensino à minha filha … e rio-me por dentro quando ela diz "`bençá tio…`bençá tia…`bençá`vô…" por entre-dentes… meio que forçada… meio que zangada… espero com ansiedade que ela acorde, e traga o riso e o som melodioso da sua voz infantil a dizer-me "bom dia, mãe… dormiste bem?" enquanto os seus olhinhos brilham e ela sorri para mim de braços estendidos para o primeiro de muitos abraços do dia. E enquanto o dia passa, eu sonho com o dia em que dividirei estes momentos únicos, felizes e prazeirosos como as minhas manas e manos, com o meu pai… para que, também eles, possam ter o prazer de dividir a felicidade de sermos uma famíia com a minha filha… porque sou mesmo assim "sentimental…".