Primeiro domingo de Março. São 7:33 da manhã. O chilrear dos pássaros é o único som que se ouve agora. Saí de um sonho lindo para entrar na realidade de um dia sem sol. Frio. Sem cor. No meu sonho eu estava em casa; junto da minha família e da minha mãe. Acordei ao ouvir a minha própria voz a chamar por ela. As lembranças de uma infância feliz ficaram sempre no meu inconsciente e; por vezes visitam-me em sonhos, e relatam-me episódios que só a minha imaginação fértil ainda consegue traduzir em imagens, cheiros e sons… que a saudade não faz esquecer… hoje acordei com saudade… da minha vida calma e sossegada, do barulho das conversas de uma casa cheia, de 5 irmãos a brincarem e a brigarem, de um som na vitrola que nos acordava todos os domingos, "Sentimental eu sou…eu sou demais…" assim cantava o Nélson Gonçalves, e assim acordávamos todos em casa. A ouvir os sentimentalismos escondidos do nosso pai que; macho como era não lhe era permitido chorar, nem ser meigo para os filhos para não os estragar com mimos. Mas era desta forma que ele nos mostrava o seu lado mais sensível. Com música. Hoje acordo em silênco … sem gritos em casa, sem risotas, sem música. Só as pernas da minha filha estendidas por cima de mim e o seu cabelo a roçar na minha cara, fazem com que eu me lembre que o silêncio é breve, que o som das risadas virão outra vez, que o sol há-de nascer e o seu brilho será ofuscante. Porque aqui há uma criança… há esperança… e quando ela acordar, a felicidade virá também … pronta para mais um dia de domingo. Sem tempo nem hora para acabar… e, juntas falaremos com os tios e tias que estiverem on-line… e, se o meu pai for lá à casa, também falaremos com ele… e vou ouvir a minha própria voz a dizer "a bênção, pai" … hábito de pequenina… que já não se usa (dizem os meus irmãos)… mas que me foi ensinado pela minha mãe, pelas minhas tias, pelos meus avós… e que nunca me deixou … e que agora também ensino à minha filha … e rio-me por dentro quando ela diz "`bençá tio…`bençá tia…`bençá`vô…" por entre-dentes… meio que forçada… meio que zangada… espero com ansiedade que ela acorde, e traga o riso e o som melodioso da sua voz infantil a dizer-me "bom dia, mãe… dormiste bem?" enquanto os seus olhinhos brilham e ela sorri para mim de braços estendidos para o primeiro de muitos abraços do dia. E enquanto o dia passa, eu sonho com o dia em que dividirei estes momentos únicos, felizes e prazeirosos como as minhas manas e manos, com o meu pai… para que, também eles, possam ter o prazer de dividir a felicidade de sermos uma famíia com a minha filha… porque sou mesmo assim "sentimental…".
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