Hoje senti saudades de casa... como é habitual. Saudades do meu pai, dos meus manos, das minhas manas. Das tias e tios... primas... senti saudade de casa cheia de gente, de barulho. de acordar com o cheiro de café "fresquinho", acabado de passar. De chegar à mesa para o pequeno almoço e ter a mesa posta, o café com leite posto na chávena como fazia a minha tia Neuza. Senti falta de frio delicioso da manhã a entrar pelas frestas da janela da casa onde cresci... da casa de há tantas gerações... que tem histórias nas paredes, janelas... árvores que a circundam. Dos caminhos de terra batida, de cada ramo de vegetação que seca no verão para florescer outra vez no inverno. Saudade das chuvas e trovoadas que preenchiam a minha infância de medo dos relâmpagos que rasgavam os céus. Saudade das noites de festa junina em que o meu avô fazia os forrós em casa e tudo se enchia de alegria. Saudade das noites de farinhada na casa de farinha da minha bisavó, noites mágicas em que andávamos em carros de boi nas noites enluaradas. Saudade das longas noites de inverno em que tínhamos a casa cheia e, na ausência de uma lareira, as histórias e fábulas eram contadas pelo meu tio - avô João, na cozinha, ao pé do fogão à lenha... onde eram cozidas as pamonhas, as canjicas, e assávamos o milho verdinho... Saudade das vezes em que o meu avô pegava nos netos às 5:30hs 6:00hs da manhã, mal o sol nascia, e íamos a caminho do curral beber leite "quente" acabado de tirar das tetas da vaca. Saudade da casa cheia de primos... de tios e tias... de carinho... de afecto... de amor.
Saudade das caminhadas mato adentro à procura de ninhos, de animais imaginários... das panelas de barro feitas por mim à beira de um açude, de uma lagoa... das cacimbas feitas às três pancadas, onde matava a sede a beber água pura por um cabaça...
Saudade das manhãs passadas em cima de um limoeiro a comer limão com açúcar, ou numa mangueira a escolher as mangas quase verdes e a comê-las da árvore. Saudade das aventuras à descoberta de ninhos de galinhas e peruas que se escondiam longe do galinheiro para chocarem os seus ovos... Saudade da alegria ao ver os ovos a partirem-se e sair de lá os peruzinhos,os pintainhos... Saudade da vida simples... sem regras... sem horas... sem medo.
Saudade das idas para a escola em que eu percorria o caminho com o coração na mão, porque sabia que ia encontrar o "meu príncipe encantado"... um dos meus primeiros amores. O meu amor dos olhos tristes...
Saudade dos professores e professoras que, para além de serem professores, eram amigos. Alguns dos quais, quase mentores... e uma delas ainda hoje é minha amiga. Alguém que trago em meu coração como se fosse da família.
Saudade dos domingos de picnic na Lagoa de Genipabú, com manos, amigos, pai e mãe...
Saudade da simplicidade das pessoas... das noites sentadas no passeio da rua, a conversar com as amigas e a falar "abobrinhas"...
Saudade de sentar no calçadão do centro da cidade e comer chocolates, uns a seguir aos outros, enquanto curtia um bruta dor de cotovelo...
Saudade das noites em que a minha prima Dani dormia lá em casa e ficávamos na conversa até às tantas, falando bobagem...
Saudade das idas à praia com as manas e primas... das férias na 2 de Novembro, em casa da minha avó, em que descobri as primeiras paixonetas...
Saudade de mim...
O Tempo passou... eu cresci. E tudo o que me resta são recordações. Felizes... outras menos boas. Hoje não há amores, não os haverá mais. Não haverá mais paixonetas... não terei muitas das coisas que me faziam feliz... mas tenho outras coisas que me enchem os olhos de lágrimas de felicidade. Tenho o sorriso da minha filha. O amor da minha família, para quem sou muito importante... tenho o sonho do reencontro. A esperança da chegada. Tenho a certeza de um futuro ao lado dos que tanto amo e que tenho a certeza de ser amada. A alegria de dividir este amor com a pessoa que mais amamos neste mundo. A Catarina. Que terá, sem sombra de dúvidas, todo o amor, carinho, atenção, cuidados, afecto que uma criança precisa para crescer bem... para formar o seu carácter... a sua personalidade.
E, com certeza, será para breve.
1 comentário:
Olá Drica! Espero que consigas regressar para junto da tua familia, é o nosso bem mais precioso...A minha irmã vive em SP, és de onde?
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