Dizem que o Tempo cura tudo... dizem que o Vento leva tudo...
... mas o Tempo não curou a ferida; o Vento não levou as lágrimas em mim contidas...
o Tempo passa por mim, mas as coisas que me traz não são suficientes para fazerem-me esquecer... o Vento vem... passa... brinca com os meus cabelos e sussurra em meu ouvido o som da sua voz. A noite chega e quando Morpheu visita-me e leva-me em seus braços; é o seu rosto que vejo. O seu sorriso... o seu olhar pacificador... as suas mãos... as suas rugas e o negro do seu cabelo. E, na madrugada fria ouço a minha voz a chamá-la... "MÃE"...
O Tempo passa, os minutos vão... outro dia... tudo diferente e no meu coração tudo igual. Já lá vão 19 anos desde o dia em que ela se foi. Mas ainda sinto a sua presença. Ainda ouço o eco da sua voz.
Falta-me o seu abraço... o seu colo... o seu cheiro...
O Tempo levou-a... eu fiquei triste... desamparada... só... vazia... ôca... sofri...
Mas o Tempo trouxe-me algo de bom... fez-me forte... crescida... tornou-me sábia... maleável... moldável... a ele ... à vida...
O Tempo não curou a dor da perda... não sarou a ferida... mas fez-me compreender... aceitar...
Hoje choro a sua ausência. Mas não com tristeza. Hoje o Vento seca-me as lágrimas... mas não são de dor...
São, antes de aceitação...
Choro por amor...aquele tal... verdadeiro, incondicional. Para além do Tempo, da distância física... aquele amor que nos recolhe em seu regaço e dá-nos a certeza da nossa importância perante o mundo, não por ter-mos bens materiais... mas por ser-mos Nós o Mundo de alguém...
Hoje celebro a Vida. E as minhas lágrimas são de alegria. Por ter tido uma mãe... que tantas vezes abdicou de si pelos filhos... pelos passos que caminhou ao nosso lado... pelos abraços que dividiu... pelo amor que nos preencheu o espaço onde cabiam brinquedos que não chegavam... o amor que substitiu as festas de aniversários cheias de pompa... as coisas supérfluas que nos cegam a visão.
Celebro esse Amor ... tão enraízado em nós, que nem o Tempo foi capaz de apagar. Celebro o poder da palavra MÃE... sinónimo de VIDA.
Amo-te, Mãe... onde quer que estejas... no Céu... no Paraíso... numa estrela...
Quando partiste físicamente levaste muito de nós... mas deixaste muito mais de ti...
Durante muito tempo olhei para a imensidão do céu... e na escuridão da noite, tentava imaginar qual das estrelas do firmamento eras tu... mas o Tempo... o Tempo disse-me para não procurar-te longe... para secar as lágrimas... para ouvir o Vento... e procurar-te em mim... porque nunca saíste de cá... porque hás-de ser eterna... enquanto eu viver... enquanto os meus irmãos viverem... e estárás cá nos genes da tua neta, que não chegaste a conhecer... e em todos os nossos descendentes que ainda hão-de nascer...
Amo-te... Amamos-te... de todos nós, recebe uma prece... uma oração... porque sei que ainda vives... e viverás sempre... porque somos um só coração...
"Tomar a decisão de ter um filho é muito importante. É decidir, para sempre ter o coração a vaguear fora do corpo" (Elizabeth Stone)...
para ti Mãe... pelos 19 anos de ausência física... essa é a forma que encontrei de dizer obrigada por tudo... porque as palavras ficaram engasgadas e o Tempo não chegou para as dizer...
Adriana Maria de Moura
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