sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Por vezes não acredito que me deixei levar por um sentimento que fez-me cegar completamente e não ver um palmo diante do meu nariz. Por vezes, custa-me a acreditar que me deixei enganar e pensar que podia ser feliz ao lado de alguém como o homem com quem casei. Tento rever-me, tento reconhecer-me ... perdi-me no tempo. Perdi-me quando acreditei ter encontrado o "tal" amor para sempre. Por este amor, enfrentei o preconceito da diferença de idades. Ignorei os conselhos do meu pai, dos meus manos e manas. Abandonei a minha pátria, os meus amigos, o meu trabalho, a minha vida. Segui um sonho. Uma ilusão. Com ele, atravessei um oceano. Tive que adaptar-me a um país e uma cultura diferentes. Chorei noites seguidas na mais absoluta solidão, enquanto ele confraternizava com amigos que não via há tempos. Por ele mudei a minha maneira de ser. De falar. Durante algum tempo, sem que me apercebesse, eu fui apenas uma "bonequinha", um brinquedo novo que se mostra aos amigos. Era "telecomandada". Não podia falar junto dos seus amigos, porque poderia dizer algo que não "soasse" bem. Não podia aproximar-me da família dele, porque estavam em "patamares" mais altos que eu. Não podia "dar confiança" às pessoas e deixar que me tratassem por tu. Não podia tratar as pessoas por tu. Não podia voltar a estudar, nem abrir conta em um banco "porque era estrangeira". Durante algum tempo, fui a mulher "perfeita". Sentava-me ao seu lado e sorria. Como uma cabeça de vento que não tem mais nada para oferecer para além de uma cara bonita e um corpo desejável.
Um dia cansei.
De ser brinquedo. De ser marioneta. O Pinóquio ganhou vida.
A partir daí, a boneca só tinha defeitos. Já pensava, mas as ideias não eram suas. Alguém as tinha posto em seu cérebro. Alguém "escrevia-lhe" o que dizer. A partir desta altura, comecei a ser imperfeita. Tantos defeitos eu ganhei! E nem sabia que os tinha. Por medo, por pena, por acomodação deixei-me ficar. Vivendo religiosamente para um casamento que existia apenas na minha cabeça. No papel. Nas aparências.
Com a minha gravidez, a minha mente abriu-se. Os meus sonhos renasceram. A minha filha deu-me vontade de viver. Renasci das cinzas, como uma fénix. Voltei a sentir-me bela, sentir-me gente, sentir-me mulher.
Hoje sei o que não quero. O que não aturo. O que não me serve.
Não quero ser infeliz para sempre. Não aturo "pancas" de ninguém, não engulo sapos vivos. Não me serve apenas "vegetar" pelos dias que me restam.
Quero, mereço e hei-de ser livre, feliz. Por mim. Pela minha sanidade mental, pela minha filha.

1 comentário:

Filipa disse...

Abençoada gravidez que te fez voltar a nascer!!!! É assim que se fala, não podes deixar que alguém que pensa situar-se num "patamar superior" te ponha o pé em cima. Foram anos perdidos por um lado, mas por outro deram-te a "bagagem suficiente" para saberes o que queres e marcares a tua posição, como alguém autonomo e que pensa por si só, que não precisa de "bengalas" que a mais das vezes estão quebradas e sem possibilidade de concerto :)))

Coragem e força. Tua vais conseguir, e um dia olharás para trás e ainda te vais rir e sentires-te orgulhosa da capacidade que tiveste em suportar tudo por que passaste.

Beijos.