domingo, 19 de outubro de 2008


Desaparecida

estive sumida por uma temporada, mas estou de volta.
Amanhã escrevo, digo para mim mesma, mas há qualquer em mim que me distancia as mãos do teclado e cada palavra que tento escrever desvanece, esfumaça, viaja a centenas de quilómetros por segundo, esvaziando a minha mente e deixando a minha alma ôca de pensamentos. Tenho um cansaço enorme em mim. Não o cansaço físico que tantao queria; mas um cansaço mental que mina-me as forças, que corrói a alma. Sinto-me vazia. Só. Nem mesmo o falar com a minha família todos os dias me faz sair desta letargia em que me encontro. Por vezes sinto-me atada ... pés e mãos. Uma vez, quando eu era criança, lembro-me de me ter afogado... estávamos num pic-nic com alguns amigos dos meus pais. Tinha uma lagoa e, no meio dela, havia uma pedra enorme... e a aventura maior que poderíamos fazer, era chegarmos a tal pedra, tocar nela se não conseguíssemos subir e deixar a nossa "marca" no topo dela. Eu não sabia nadar... e o meu irmão, mais velho que eu um ano, disse que me ajudava a ir até lá. Sentámos numa bóia improvisada de uma câmara de ar do pneu do carro do nosso pai, e lá fomos os dois. Quando chegámos junto à pedra, não lembro bem porque ou como aconteceu... lembro apenas que a bóia virou, eu caí e como não sabia nadar, não conseguia vir à tona... lembro de ver a pedra e ter os olhos abertos... deixava-me afundar sem mexer um dedo... olhando as bolhas de ar libertadas pela minha boca a subirem para onde eu devia de ir... lembro do medo e ao mesmo tempo da confiança cega que tinha no meu irmão e nos meus pais que lá estavam, eu devo ter pensado que nada de mal me poderia acontecer... eles estavam lá... o meu pai e a minha mãe... e nada me ia acontecer... eles viriam buscar-me antes que fosse tarde. No fundo eu sabia que o meu irmão não me podia resgatar, era um pouco mais velho que eu, sabia nadar mas não era o suficiente para mergulhar e trazer-me de volta... mas ele chamaria os nossos pais... e assim foi... do mesmo modo que me senti afundar, também senti-me ser içada pelas mãos gigantes do meu pai que me olhava espavorido com o medo estampado na cara. Eu estava salva. O meu pai estava lá. A minha mãe chorava, agora de alegria por ver-me com vida e sem sequelas. E o meu irmão, com cara de alívio olhava para mim, com um ar interrogativo ... sem saber ao certo o que tinha acontecido. Procurando um culpado para o ocorrido... teria ele virado a bóia de propósito? teria eu tentado tocar na pedra e por um desequilíbrio meu, caído na água sem querer? não sei. não lembro. Lembro apenas de ter sido salva pelo meu pai, das lágrimas e do olhar de alívio, de amor e ternura da minha mãe.Lembro apenas da plena e absoluta certeza que tive de que nada me poderia acotecer de mal, porque eles não deixariam.
Hoje sinto-me só. E esta lembrança veio à tona porque é como me sinto agora. A afogar-me, a deixar-me cair no fundo de uma lagoa... sem forças e sem saber respirar. Mas sei que eles estão lá fora. Chamando por mim, esperando por mim. Não me podem dar ajuda física. Mas nossos pensamentos estão ligados. E eles me chamam. E eu ouço chamado da voz do meu pai, e sinto a alegria da minha mãe (que já não está connosco). Mas sinto a sua alegria nas minhas tias-avó. Na voz das minhas irmãs. A dizerem-me para não me deixar afogar. Para lutar com unhas e dentes. Para vir à tona, para respirar. Para renascer. É por eles, e por mim... que arranjo forças para sorrir. É pelo Sol que brilha no olhar da minha filha que arranjo forças para, na minha solidão, submergir dos pensamentos sombrios, esquecer as palavras que me magoam... as atitudes que me enervam e vir à tona... Estou aqui... Estou de volta.
Um brinde à luz... ao amor fraterno... paterno... materno... amor puro, simples... sublime...transcedental...incondicional.
à vocês família... obrigada... por tanto amor, carinho e dedicação.
a ti, Filipa... obrigada por me "ouvires"...

2 comentários:

Filipa disse...

Olá Cunhada,

Este teu post fez-me chorar, chorar, chorar ...

Como te compreendo ... e como me sinto impotente para te ajudar, para te dar a mão!!

A tua vida não tem sido nada fácil, e só uma pessoa forte como tu conseguiria aguentar o que tu tens aguentado.

É triste, estarmos ligadas por pessoas que não prestam e que tem como objectivo de vida espezinhar-nos. Não iremos permitir que isso aconteça, afinal somos fortes e conseguiremos resistir.

Drica, tem calma ... tudo se irá resolver, concerteza que melhores dias virão.

Um grande beijinho para ti e para a Cati e já sabes que estou aqui!!

Filipa disse...

Eu juro que não venho mais aqui ler este teu post!!! Juro, juro, juro!!!