é assim que tenho mantido a minha mente. Estou a trabalhar em algo que adoro. Serviço Social. Coordeno uma Casa de Passagem. É um lar provisório para adolescentes com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos (completos) vítimas de abuso ou exploração sexual, destituídos do poder paternal, casos de abandono ou negligência familiar. Neste momento temos 25 adolescentes residentes, e uns quantos evadidos.O objectivo deste serviço é trabalhar o cerne da questão; a desestructura familiar, reeducar o jovem e prepará-lo para a volta ao seio da família e da Sociedade.
A equipa que tenho ao meu cargo é grande, é formada por uma Terapeuta Ocupacional, duas Asssistentes Sociais, um Pedagogo, um Professor de Artes, dois Auxiliares de Enfermagem, um Psicólogo (que por acaso é português); uma Técnica Administrativa, quatro ASGs, quatro Motoristas, quatro Cozinheiras, dois Zeladores e os Educadores. Temos ainda, uma Nutricionista, um Chefe de Cozinha (que vem dar aulas aos meninos, três guardas Municipais que fazem a segurança e a Coordenadora. O espaço físico da casa é fantástico. É uma vivenda composta por uma espaçosa sala única que é sala de estar e sala de jantar ladeada por jardins internos, 4 quartos com casas de banho privativas (sendo dois quartos para os meninos e dois para as meninas),os quartos têm portas que abrem para uma varanda virada de frente para a piscina, uma cozinha enorme, uma área de serviço,duas casas de banho para uso dos funcionários, almoxarifado, a sala dos técnicos e a sala da coordenadoria e, ainda uma sala onde eles são ouvidos pela Terapeuta Ocupacional ou pelo Psicólogo e, onde fica guardado o material de trabalho para os Educadores . Temos ainda uma quadra de desportos, onde os meninos jogam ao vôlei, básquete e futebol, um jardim enorme e uma piscina e,também, um carro ao serviço da casa permanentemente durante 24 horas. As rotinas da casa são simples e prazeirosas. O meu horário é das 8hs às 15hs. Começámos o dia com o "Momento Bom Dia", onde reunimos todos os funcionários e jovens, dámos as mãos fazendo um círculo, passámos a mensagem que queremos para os jovens, falámos sobre o comportamento deles, rezamos o Pai Nosso e encerramos com um abraço a cada uma das pessoas desejando a todos um bom dia. A seguir, os grupos são divididos e cada um segue para a sua tarefa. Nos quartos estão afixados os quadros de tarefas para cada adolescente, uns limpam os quartos, outros lavam as casas de banho, enquanto outros estão com os educadores a fazerem actividades. Praticam a capoeira, dança, alguns vão à escola pela manhã, outros à tarde, e uns quantos à noite. Depois há o Momento Pedagógico, os educadores orientados pelo Pedagogo, fazem as tarefas escolares com os jovens, às terças-feiras, há a reunião de grupo com o Psicólogo e a Terapeuta Ocupacional... nesta reunião, os jovens são ouvidos e falam das suas necessidades. Às quintas-feiras, temos aula de culinária ministrada por um Chefe de Cozinha. Semanalmente temos a visita da Nutricionista.
As pessoas são amáveis, gentis e receberam-me de braços abertos. Vale ressaltar o carinho e a atenção dispensada pela Rejane, a Coordenadora que vou substituir. Ela tem sido impecável para comigo. Apresenta-me a toda a gente, leva-me às reuniões para eu me inteirar sobre os assuntos... ela é absolutamente fantástica. No domingo passado fizemos um churrasco em homenagem aos aniversariantes dos meses de janeiro à esta data. Crescidos e pequenos... foi um domingo muito bem passado com um jogo de bingo que teve direito à premiações. Os aniversariantes tiveram um bolo e receberam uma lembrança simbólica. Eu levei a Catarina para conhecer a casa que ela ainda não conhecia. Claro está que ela adorou.
Pela parte laboral, estou feliz. Realizada como pessoa. Os meninos sentem algum carinho por mim e tenho visto melhorias de comportamento neles. É difícil, mas chegamos lá...
Mas, mesmo esta felicidade aparente, ainda deixa espaço para o vazio da minha alma. Por vezes pego-me a lembrar de outros meninos e meninas que amo e as lágrimas descem. Lembro de cada rosto, de cada sorriso, de cada voz. Da Cátia a chamar-me mãe, do André ao meu colo, do Tomás a dizer " mamana, xenta...", de passear de mãos dadas com o Man´el no recreio...lembro de detalhes que a memória devia esquecer... mas eles estão e estarão cá... sempre... no meu coração... talvez por eles serem "especiais", talvez por eles serem especiais...
um dia destes publico as fotos... para dividir convosco a minha alegria vazia...
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